Os amigos e as amigas sabem que eu me interesso pelos conceitos filosóficos ligados aos princípios humanos. Eu precisava, para tentar contribuir com sua disseminação, ensaiar visões pessoais e buscar formas pouco comuns de exemplificá-los, condição obrigatória a qualquer trabalho levado à publicação.
Foi assim que estreei com o “Aspectos Éticos na Engenharia”, de 1994, prefaciado pelo inesquecível mestre Otávio Reis de Cantanhede Almeida, uma honra que valorizou em muito o meu esforço. Lá, anunciei o meu conceito do que entendo por comportamento ético e destaquei o binômio “disciplina e coerência” como a base a ser buscada na sua efetivação.
Mestre Otávio me deu razão, e isto me bastou como gratificação. Porém, outros amigos e amigas me incentivaram a prosseguir no caminho autodidata do pesquisador, do observador e do analista, levando-me a um interesse pelos fenômenos históricos dos séculos XVI em diante, do que resultaram outros trabalhos, sempre úteis como exemplos disponibilizados ao teste do meu conceito de comportamento ético.
Assim, transformou-se em instrumento de meus escritos a apreciação histórica apoiada na lógica, no bom senso, sem preconceitos, sem vinculações sectárias. Quase sem o saber, eu estava praticando a disciplina do pensamento com coerência, um procedimento compatível com o binômio que destacara em meu primeiro trabalho. O resultado da constatação foi a aceleração do meu estudo, a ampliação quase doentia das pesquisas madrugadoras, a edição de outros tantos ensaios — dois deles premiados pela União Brasileira dos Escritores na categoria de ensaios históricos sociais —, dos quais este de 2010 (A Ética da Obediência) é o sexto.
Tomara o leitor e a leitora se agradem com o resultado. Nele verão o homem de ciência crente no Deus Criador, convicto da obviedade de um universo com propósito. Constatarão o homem tolerante com as predições e conclusões dos defensores do evolucionismo darwiniano, sempre procurando contribuir com o entendimento às sábias lições hebraicas, aparentemente contraditórias à visão do cientista revolucionário. Lições hebraicas tão antigas e, ao mesmo tempo, tão atuais perante a realidade do ser humano, este ente que, embora capacitado a ser feliz na simplicidade do mundo que lhe foi ofertado, prefere insistir na desobediência.
Enfim, convido-os a folhear este meu novo filho. Se gostarem, por certo aguardarão o ensaio seguinte. Nele, parto do ano 63 a.C. e me lanço ao ano 33 da era cristã. O protagonista é Jesus, aquele homem diferente, inédito e insubstituível, autor da nova lei, a do amor e da solidariedade, uma coleção de princípios ausentes na visão ancestral hebraica cujos paradigmas não dispensavam a misericórdia divina, mas não deixavam clara a presença do perdão. Para entender Jesus e o seu mundo — o nosso mundo — precisamos entender o mundo que o antecedeu. É o que procuro fazer no “A Ética da Obediência”.